quarta-feira, outubro 08, 2008

O DESPENHADEIRO



O DESPENHADEIRO
Autor: Fernando Vallejo.


Você já leu? Comente!
Quando peguei esse livro para ler não pensava que ele fosse me provocar o que me provocou: medo! Isso mesmo, medo! Como sou cristão, o livro me despertou um certo temor. No entanto deixei de lado meus pensamentos pré-estabelecidos para viajar numa leitura que eu diria que é de primeira. Logo no início do livro me espantei com as palavras de Vallejo. “ Que Deus! Que pátria! Imbecis! Deus não existe, e, se existe, é um porco e a Colômbia, um matadouro.” Por aí você tem uma idéia do que vai encontrar nas próximas páginas. Um autor: irônico, debochado, sarcástico, cruel, preconceituoso e arrogante! Mas tudo isso se deve a uma visão clara e crítica da vida. A vida não é fácil, e sabemos o quanto é difícil expressarmos o que realmente sentimos, por medo de magoarmos as pessoas ou atiçar as instituições. Vallejo parece que não tem medo de nada, e fala o que pensa sem nenhum pudor, você gostando ou não ele vai falar e parece que não está nem aí para o que você vai achar dele.
Se o Index da Igreja Católica ainda existisse, esse livro certamente estaria entre os 10 mais! Dez mais hereges, satânicos e proibidos de toda a literatura universal! Em O Despenhadeiro, Fernando Vallejo despeja com fúria, sua ira contra as instituições da sociedade, não escapando quase nada. Retrata uma família burguesa destroçada, uma sociedade violenta, uma politica mesquinha e corrupta, e claro, a Santa Igreja Católica Apostolica Romana. Quando retrata a política colombiana, chego a pensar que ele está falando sobre nossa política. Nada escapa! Ele trata sua mãe como “a louca” seu irmão mais novo como “o grande cretino” ou “aborto da natureza” e o Papa João Paulo II como “Joana Paula Segunda a travesti” (Será que a Igreja vai mandar fechar esse blog??!! DEUS nos livre!)
A história é a seguinte: Ele volta à Colômbia para visitar o irmão Darío, que está morrendo de AIDS, deste ponto ele parte para suas lembranças do passado, sua infância suas aventuras junto com o irmão e sempre fazendo uma ponte com o presente. E entre essas lembranças ele começa a falar de tudo: de drogas, sexo, família, política, religião, da vida! Da real vida que vemos dia a dia. O livro é autobiográfico.
Segundo palavras de Pedro Almodóvar (outro polêmico): “Sua ira explosiva é tão brilhante, tão sonora, real, sincera, às vezes divertida, quase sempre cruel, que sua leitura é algo prazeroso e estimulante.”
“O Despenhadeiro nos mostra Vallejo em seu auge criativo. Seu estilo único surpreendente desde as primeiras páginas, seja pela franqueza com que fala da família, pelas descrições de uma violenta Medellín ou pela ironia com que trata tudo, da religião católica aos hábitos mais comuns da sociedade. É um livro impressionante, de um dos autores mais originais de sua geração.”
“O Despenhadeiro é um impressionante relato do desmoronamento de uma família em meio a um país em transformação.”
Transcreverei aqui um trecho que me deixou engasgado, devido a suas palavras ásperas e crueis. Nesse trecho ele está comentando sobre seu irmão e sua nora que tem um canil com quinhentos cachorros e duzentos gatos!
“ Para mim os cachorros são a luz da vida, e, aos que perguntam maliciosamente ao meu irmão e à Norita por que em vez disso eles não tiram das ruas crianças abandonadas, respondo assim, com as seguintes palavras textuais e delicadas:
-Quantas vocês tiraram, cristãos bondosos, alminhas caridosas, filhos de uma grande puta? Se são vocês mesmos que as geram e as parem e as jogam depois na rua!
E consequentemente comigo e com meu rigor dialético, reparto entre os acima referidos camisinhas envenenadas, e entre seus filhinhos abandonados barras de chocolate idem, para que esses fi-de-putinhas não cresçam e não nos venham a matar. Em toda criança há um homem em potencial, um ser perverso. O homem nasce ruim e a sociedade o piora. Por amor à natureza, pelo equilíbrio ecológico, pela salvação dos vastos mares, é preciso acabar com essa praga.
Ah, já ia esquecendo: enquanto Aníbal e Nora limpam dia e noite a merda de quinhentos cachorros e duzentos gatos e suportam sozinhos, sem ajuda de ninguém, uma imensa carga de dor, Joana Paula Segunda, a travesti, dorme muito bem, come bem, trepa bem, e assim, com a consciência tranquila, bem dormida, bem comida, bem trepada, em meio a uma nuvem de anjinhos com duas asas, esta besta vai impune rumo ao céu do Todo-poderoso. Ali Agca, seu fi-da-puta, por que não acertou a pontaria?”
Mesmo assim, com todas essas palavras, é um livro excepcional! Acredito que são poucos os autores que falam desse e de outros temas com tanta segurança e sem pestanejar e temer com a opinão dos outros.
Fernando Vallejo é colombiano, mas vive no México. Escreveu O Despenhadeiro em 2001 e ganhou o prêmio Rómulo Gallegos de 2003.




LoyzCarlo_MegaRecife.

2 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Olá, Loyz!
Interessantíssimas as tuas impressões acerca d'O Despenhadeiro, do Vallejo, que já tive o prazer de ler.
É curioso como às vezes os sentimentos mais inesperados é que nos permitem escrever comentários tão bem elaborados como este teu.
Agradece ao teu medo por esta resenha.
Parabéns pelo belo Clube da Leitura Saraiva. Sem dúvida que autorizo a publicação dos meus textos (resenhas, poesias, contos) neste espaço. Terei imensa satisfação em vê-los divulgados em teu simpático blog.
Um abraço.

Remisson Aniceto

"Poesia para o mundo"

http://remissonaniceto.bligoo.com/