quinta-feira, outubro 09, 2008

O CRIME DO PADRE AMARO


O Crime do Padre Amaro

Eça de Queirós


Por: Remisson Aniceto


Qual o crime cometido pelo jovem padre Amaro? O de ter se apaixonado pela bela Amélia? E se o crime tem uma agravante, qual a pena a ser-lhe aplicada por tê-la engravidado?

Eis um livro que deve ser lido com muita atenção, pacientemente, para o leitor não perder detalhes de como o autor retrata a hipocrisia e a promiscuidade da sociedade portuguesa na segunda metade do século XIX, especialmente dos representantes da igreja católica.

Para instigar a curiosidade dos futuros leitores, vale ressaltar algumas passagens do romance, como a cena da refeição dos padres à mesa da S. Joaneira, discutindo banalidades e a vida alheia, as qualidades e defeitos dos homens e das mulheres, a vida dos pobres("azar o deles") e os "arranjos" para conseguir dinheiro com os políticos.

Amélia, diante da impossibilidade de se casar com seu querido Amaroe para não "cair na boca do povo", é convencida a se preparar para contrair núpcias com o escrevente João Eduardo. João Eduardo que, num horrível sonho de Amaro, adquire as feições do Diabo, impedindo o padre de continuar com sua amada Amélia o caminho para o Céu. E Amaro também vai se enredando cada vez mais numa teia de mentiras para manter as aparências, chegando ao absurdo de desejar que o filho nasça morto.

Há trechos maravilhosos como o seguinte: "Diante de Nosso Senhor, o verdadeiro marido de Amélia era o senhor pároco; era o marido da alma, para quem seriam guardados os melhores beijos, a obediência íntima, a vontade; o outro teria quando muito o cadáver..."Ou ainda quando o severo Dr. Gouveia, descobrindo por fim o estado de Amélia, diz: "Eu bem tinha dito a tua mãe que te casasse!" e, resignado, complementa: "A natureza manda conceber, não manda casar.O casamento é uma fórmula administrativa..."Não consumado o casamento por desistência do escrevente, tenta-se deseperadamente conseguir outro noivo antes que Amélia dê à luz ao fruto proibido.

Fosse eu enumerar todas as partes maravilhosas deste livro e o reescreveria por completo. Fica, assim, a indicação da leitura de um dos grandes romances de Eça de Queirós, um verdadeiro documento humano e social da sociedade portuguesa de então: O Crime do Padre Amaro.

6 comentários:

Patrícia disse...

Uma excelente indicação. Principalmente para aqueles que acham obrigatório ler Eça de Queiroz só para o vestibular. Esse livro sem dúvida teve sua parcela de influência nas minhas escolhas diante da igreja. Talvez hoje eu não tenha ainda tanta certeza das coisas que devo acreditar. Mas, sem dúvida sei o que não quero e nem devo seguir. A grande instituição mãe a que se intitula nossa aclamada igreja católica só prova a cada dia sua dominação, seus interesses.

Patrícia_Mega Recife

Leonardo Garrido disse...

Já li esta resenha no Leia Livro, site especializado em boa literatura, mas a releitura me alegrou muito, pois o que tem valor vale ser revisto. E o Remisson tem textos excelentes distribuídos pela internet, textos que muitas vezes servem de objeto de estudo para nossos alunos. Todo incentivo à leitura será sempre bem-vindo. Recomendo aos meus alunos.

Mel Portela disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mel Portela disse...

"O Crime do Padre Amaro" é um livro muito bom. Confesso que quando comecei a ler, fiquei meio "empacada", já que não sou lá muito fã do Eça de Queiroz - ou Queirós, de acordo com a vigente ortografia da língua portuguesa - (muito pelo fato de ter sido "obrigada" a ler algumas coisas no colégio). Porém, quando engrenei na leitura, senti-me gratificada por não ter desistido logo de início. A narrativa é espetacular e a riqueza de detalhas impressiona. É triste, revoltante, mas necessário, principalmente em se tratar de uma análise da sociedade portuguesa em relação à Igreja Católica na época em que o romance foi escrito.

Mel Portela - Mega Recife

Mel Portela disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mel Portela disse...

Aaaaaaaaaaaaaaaaaah! Não poderia esquecer de falar sobre a adaptação cinematográfica, claro! Com uma produção conjunta entre França, Argentina, México e Espanha, foi lançado em 2002. Traz como o Padre Amaro o *pecado* Gael García Bernal (que está excelente no papel) e como Amelia, a Ana Claudia Talancón (que também atuou na adaptação pro romance do García Márquez "Amor nos Tempos do Cólera").

Mel Portela - Mega Recife