quinta-feira, agosto 14, 2008

O que você está lendo?

Comente aqui o que você está lendo. O que você indica? O que vale a pena ler? Não devemos perder nosso tempo com qual livro? Faça resenhas, critícas e análises dos livros, sinta-se livre para opinar e dar sugestões!

14 comentários:

Patrícia disse...

Foi com o mesmo sentimento revirado causado por “Carta a meu pai” de Kafka, por “Crime e Castigo” de Dostoievski, por “O pai Goriot! de Balzac e tantos outros, graças a Santa Literatura! Que me vi novamente rendida por um autor cujas idéias cruas e palavras secas me fizeram reviver o sentimento de que a África vive em cada pedacinho de lugar. A África é o mundo que vivemos. São as leis que as nossas necessidades mais primitivas sentenciam. O livro “Desonra” do Sul-Africano J. M. Coetzee é o absurdo da nossa condição humana. O professor de literatura retratado no livro expõe as viradas bruscas que a sua vida organizada meticulosamente sofre e o desespero de no fundo ser só mais um, incapaz de mudar as coisas e longe de exercitar a palavra esperança.

Patrícia Santos

Anônimo disse...

"Só há dois grandes poetas nacionais: Drummond e Bandeira."

Essa frase estava o tempo inteiro na minha cabecinha teimosa. Eis aqui uma pessoa chata para gostar de poesia. Mas há poucos meses decidi procurar mais coisas que me agradassem na poesia brasileira. Li, li, li MUITA coisa ruim, li, li, li... e encontrei! Encontrei bons poetas! Vou indicar um todo especial: Manoel de Barros!

Manoel de Barros é lá de Cuiabá. Fiquei impressionada logo nas primeiras leituras. Ele pega o que há de mais trivial e inusitado para transformar em algo realmente belo: o vizinho que tem uma perna mais curta que a outra, o sujeito catador de pregos no chão. Manoel, através da sua linguagem poética, transforma esses seres em criaturas grandiosas. Não foi por acaso que uma de suas obras recebeu o título de 'Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo'.

Vou colocar aqui uma poesia dele, procurem mais!

O Catador

Um homem catava pregos no chão.
Sempre os encontrava deitados de comprido,
ou de lado,
ou de joelhos no chão.
Nunca de ponta.
Assim eles não furam mais - o homem pensava.
Eles não exercem mais a função de pregar.
São patrimônios inúteis da humanidade.
Ganharam o privilégio do abandono.
O homem passava o dia inteiro nessa função de catar
pregos enferrujados.
Acho que essa tarefa lhe dava algum estado.
Estado de pessoas que se enfeitam a trapos.
Catar coisas inúteis garante a soberania do Ser.
Garante a soberania de Ser mais do que Ter.

Manoel de Barros

Loyz disse...

Recentemente li o livro A Idade da Razão de Jean-Paul Sartre, o livro é o primeiro de uma trilogia, seguido por Sursis e Com a Morte na Alma. Sartre foi um importante filósofo existencialista francês. Segundo ele, as nossas idéias são produtos de experiências da vida real, a existência precede a essência, e o homem é livre para projetar a própria vida.
No livro a Idade da Razão, o personagem principal é um professor de filosofia chamado Mathieu Dalarue, um homem que preza por sua liberdade e não abre mão dela. Um fato abala a vida de Delarue, sua amante Marcele, com quem ele vive um relacionamento há vários anos, o informa que está grávida. A partir deste fato, a vida do professor toma um rumo diferente. Diante disso, ele vê sua tão prezada liberdade ameaçada. Casamento é um ato que tolheria completamente sua liberdade e ele se vê numa situação desesperada quando decide fazer um aborto. A historia narra a corrida de um homem em busca de meios para pagar o tal aborto. Como se trata se um livro escrito por um filósofo não poderia deixar de existir a crise existencial, um homem na faixa de seus trinta e poucos anos com seus sonhos que não foram realizados, suas dúvidas, seus amores, sua profissão, sua ética em prova.
O livro narra a vida de um homem que se diz livre mas que está preso a convicções pequeno-burguesas onde sua suposta liberdade não passa de uma ilusão. O livro mostra a incapacidade humana de ser verdadeiramente livre. O homem está preso a idéias pré-estabelecidas pela sociedade, tornando-o assim incapaz de gozar de um sentimento de liberdade plena.
Sartre nos faz pensar sobre até que ponto chegamos para alcançar a liberdade, nos tornando às vezes pessoas individualistas e arrogantes em busca de um sentimento tão caro a todos nós. A liberdade almejada por nós existe, mas com suas limitações.

Loyz disse...

Segundo Satre:· “Aos fodidos , a vida ainda outorga inúmeros pequenos prazeres, é mesmo para esses sujeitos que ela reserva boa parte de suas graças efêmeras, com a condição de que gozem modestamente.” (A idade da Razão – Jean-Paul Sartre. Pág.: 294)

Milena disse...

Acabei de ler O Último Catão da Matilde Asensi [autora espanhola] e deixo recomendado para o público que curtiu temáticas como o código da vinci. O livro gira em torno da freira paleontóloga Ottávia, que é designada a investigar um misterioso assassinato ocorrido na Grécia. Perpicaz e curiosa, Ottavia se envolve, juntamente com Farag [um arqueologo egípcio] e Kaspar [capitão da guarda suíça do vaticano], em uma série de aventuras que vai levá-los a descobrir um mistério escondido no texto do Purgatório de Dante e ao perigo eminente na forma de uma antiga sociedade secreta.

de O a 10: nota 7

Milena - Mega Recife

Mel Portela disse...

Estou lendo, no momento, o Guia de Cinema Jorge Zahar. Pra quem é fã da Sétima Arte, é uma boa pedida. Além de traçar um panorama cinematográfico de muitos países, ele aborda de maneira clara as técnicas do Cinema e traz o perfil de muitos diretores importantes da história, relatando suas principais obras e características. Sem esquecer da lista dos 100 filmes que todo cinéfilo tem que ver. Ah, claro que não poderia ficar de fora a história do Cinema. Desde seu surgimento até os dias atuais.

Mel Portela - Mega Recife

Patrícia disse...

Na verdade... Terminando...é muito difícil se desapegar. Eu juro! eu tô tentando... Leiam LUUANDA ESTÓRIAS de José Luandino Vieira. São 3 continhos galera. mas não pensem que vão ler rapidinho não. E isso é o melhor, a simplicidade nem sempre é clara. ABSORVAM a atmosfera desse lugar.

Patrícia Santos_Mega Recife

Patrícia disse...

Nunca se falou tanto da China como neste ano. E pudera? mas eu não tô aqui pra falar de olimpíadas, afinal melhor nem comentar... Vamos falar de Literatura e das boas! Acabei de dar o último suspiro com BALZAC E A COSTUREIRINHA CHINESA de Dai Sijie. Talvez vocês não participem da mesma opinião e isso é bom, assim poderemos discutí-lo. Mais tem uma coisa neste livro que o faz merecer certa atenção. Pra quem não domina o que foi a revolução cultural na China, este livro mostra o seu auge numa época em que as universidades foram fechadas, livros proibidos e os jovens "intelectuais" eram mandados para campos de "reeducação". E como se isso não bastasse, ele nos da uma lição de como a literatura pode mudar, salvar e da esperança a uma vida.

Patrícia Santos_Mega Recife

Milena disse...

Acabei de ler A Letra Escarlate do Nathaniel Hawthorne e para quem gosta de ler os "Clássicos" esse livro é uma excelente pedida. A história se passa na Nova Inglaterra [atual EUA] no período negro do puritanismo, na cidade de Salem, onde a adúltera Hester Prynne é condenada pelo seu pecado a usar pelo resto de sua vida uma letra A bordada de vermelho e ouro, na qual a sociedade poderá execrá-la publicamente.
Sem cair no romantismo piegas, o autor norte-americano constrói um mundo de hipocrisia com personagens fortes que são capazes de suportar o mais vil dos sofrimentos em nome de suas convicções sentimentais e religiosas.
O romance já foi adaptado para o cinema com o nome homônimo, tendo como personagens principais Demi Moore [Hester Prynne] e Gary Oldman [Reverendo Dimmesdale]. No entanto esta adaptação teve seu final modificado e a força dos personagens, tão explicita no livro, fica muito aquém no cinema.

Uma observação: o livro é bastante descritivo, então para quem não gosta de livros assim, provavelmente achará o romance tedioso.

Nota: 9

Milena disse...

Definitivamente eu amo o Caio. Ou melhor, eu sou a encarnação do Caio! Porque nunca vi nenhum escritor tocar fundo a minha alma como o Caio. Mas enfim, vim falar de uma das suas obras-primas [que são quase todos os seus livros] Morangos Mofados. Lançado em 1982, o livro de contos é dividido em 3 partes: O mofo, Os Morangos e Morangos Mofados, nos quais o autor fala com maestria dos problemas urbanos e das desilusões que marcaram toda uma geração da década de 70/80. Apesar de se referir à essa época, seus contos continuam extremamente atuais, pois quem hoje em dia não sofre com a rotina, o tédio, a solidão, o desespero e ainda assim, a esperança de dias melhores? Pois é isso e muito mais o que o Mestre Caio Fernando Abreu nos oferece em seu livro. Vai aí uma palhinha:

"Será possível plantar morangos aqui? Ou se não aqui, procurar algum lugar em outro lugar? Frescos morangos vivos e vermelhos. Eu acho que sim. Que sim. Sim."

Milena_Mega Recife

Patrícia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Patrícia disse...

Num desses momentos diários onde é possível conhecer, conversar, trocar idéias a respeito desse vício delicioso que é a literatura, conheci a história de mais uma mulher que sacrificou sua vida por amor. Embora pareça a princípio uma simples carta, o texto é de uma sinceridade desconcertante, ainda mais no tempo, não muito distante, onde as mulheres não tinham “voz”. Um cliente, também apaixonado por livros, cujo interesse filosófico o fez ler o livro VITA BREVIS do JOSTEIN GAARDER, apresentou-me a vida de FLÓRIA EMILIA, uma mulher primeiro apaixonada, depois decepcionada, indignada e por último descrente da vida.

Essa mulher de que falo, viveu doze anos como concubina do homem que foi venerado e aclamado Santo pela nossa imponente Igreja Católica. O “exemplo” cristão, padre, bispo e depois SANTO AGOSTINHO negou-a mesmo fazendo menção a ela em algumas passagens de suas Confissões comparando-a às paixões do mundo. Como se isso não bastasse, ao filho que os dois tiveram ele chamou de fruto do pecado.

Pra mim a carta impressiona pela força dessa mulher e a covardia desse homem idolatrado por fiéis no mundo todo. Isso nos mostra o poder dessa Instituição que elege para si o direito de decidir a vida dos que acreditam nela.

Patrícia_Mega Recife

Milena disse...

Nessa nova leva de livros de guerra, uma boa pedida é A Chave de Sara. O livro é ambientado na França de 42 e na França de 2002, e conta paralelamente a história de Sara, uma menininha que sobreviveu ao horror do holocausto, mas teve que conviver por toda a vida com seus fantasmas internos, inclusive o fato de ter trancado o irmãozinho no armário pensando se tratar apenas de uma brincadeira, quando a polícia francesa resolve deportar todos os judeus aos campos de concentração e de Julia, uma jornalista americana radicada em Paris, que é contratada para fazer uma reportagem comemorativa sobre os 60 anos do Vel d'hiv, como o fato é conhecido na França. Entre suas pesquisas, ela vai se aprofundando cada vez mais no íntimo dessa história nefasta, ao ponto de mudar a vida de todos que a rodeiam, e sua própria e a dos descendentes de Sarah.

nota: 9

Milena_Mega recife

Patrícia disse...

A maioria de vocês com certeza já ouviu falar deste livro, "Homens e Caranguejos" do Josué de Castro. Ou talvez o "Geografia da Fome", esse bem mais conhecido, sem dúvida. Mas o motivo pelo qual escrevo sobre o primeiro, foi o acordar brusco de uma realidade tão perto de nós e que fazemos questão de ignorá-la que o texto alerta.
Aos que moram neste Recife tão bonito aos olhos dos visitantes, mas alheio ao mar de miséria que seus mangues acolhem.
Se a idéia de ler um livro cujo assunto central e único seja a descoberta da fome não lhe atrai, leia ao menos o prefácio que a meu ver vale o livro sem tirar uma só palavra.
Aqui eu deixo um pequeno trecho dessa introdução que pra mim foi a descoberta deste livro.

"Nas terras pobres e famintas do Nordeste brasileiro, onde nasci, é hábito servir-se um pedacinho de carne seca com um prato bem cheio de farofa. O suficiente de carne — quase um nada — para dar gosto e cheiro a toda uma montanha de farofa feita de farinha de mandioca, escaldada com sal. Foi, talvez, por força deste velho hábito da minha terra que resolvi servir ao leitor deste livro muita farofa com pouca carne..."

"O tema deste livro é a história da descoberta da fome nos meus anos de infância, nos alagados da cidade de Recife, onde convivi com os afogados deste mar de miséria..."

"A impressão que eu tinha era que os habitantes dos mangues — homens e caranguejos nascidos à beira do rio — à medida que iam crescendo, iam cada vez se atolando mais na lama..."